Ziraldo inventor e dono de circo
ZIRALDO. Eu cresci inventando coisas. Inventava histórias, e tinha um circo no fundo do quintal. Eu era tão aberto para o mundo que o meu circo se chamava Circo Norte América, achava chiquérrimo. E a fera do circo era um gambá cego. E os meninos pagavam o ingresso pro circo com pau de fósforo, cinco paus de fósforo. Não se tinha unidade monetária, uma coisa que você podia dividir era o pau de fósforo. Fiquei rico de pau de fósforo, podia virar um incendiário. E também desenhava desbragadamente.
Quando eu cheguei na idade dos 11 anos, comecei a fazer história em quadrinhos. Aí comecei a ler gibi adoidado, Mirim, Lobinho, todas as revistas da época. Eu peguei a fase áurea da história em quadrinhos, dos heróis. Tinha um chamado Titã, outro chamado Dragon e o companheiro dele, Roy, tinha o Zástrás, o Cometa e o Vingador. O Cometa tinha uma roupa maravilhosa e usava óculos, pois o olho dele feria, matava as pessoas. A arma dele era o olhar, quando chegava no bandido ele levanta os óculos e “pááá”, fulminava os caras com o olhar. Era sensacional esse personagem. Aí mataram o Cometa, sofri muito. Depois apareceu o irmão dele, o Vingador, que também tinha máscara e tudo. Meu universo era a história em quadrinhos, que era algo proibido de ler, porque, naquela época, achava-se que a história em quadrinhos comprometia a leitura e tudo mais. E, além disso, era pecado, para Igreja Católica, ler história em quadrinhos. Então, mais um motivo para ler, quanto mais proibido, mais fascinante era. E meu pai, que era muito católico, sacou isso. Tinha um barbeiro na minha rua que lia gibi. Então papai comprava o gibi velho dele e dava para mim, sem o padre saber. Meus pais me ajudaram muito nessa coisa.
Então eu fiz milhares de histórias em quadrinhos, até que a gente vai para a escola, começa a ler livros e acontece o Monteiro Lobato. Eu li tudo de Monteiro Lobato na infância, tudo. Li Viriato Correia, e um outro escritor chamado Clemente Luz, autor do livro que mais me encantou na infância, O mágico, a história de um amarra-cachorro-de-circo, aquele cara que tira as coisas do picadeiro quando o artista acaba a apresentação. O sonho dele era ser mágico, e ele sonha tanto, tanto, tanto, que um dia ele fez uma mágica mesmo.
A paixão pelos quadrinhos e pelos desenhos me faz lembrar um certo Pedrinho... daqui de casa! Adorei conhecer mais um pouco do Ziraldo... ele tem sempre tanto a contar...
ResponderExcluirNeila